27/03/2010

GIORGIO AGAMBEN E O CONCEITO DE POTÊNCIA


"Se uma potência de não ser pertence originalmente a toda a potência, será verdadeiramente potente apenas quem, no momento da passagem ao acto, não anular simplesmente a própria potência de não, nem a deixará para trás em relação ao acto, mas fará com que ela passe integralmente nele como tal, isto é, poderá não - não passar ao acto."

15/03/2010

13/03/2010

Antes de Descobrir a Garganta na Covilhã

A CARTUXO estará presente no XIV Ciclo de Teatro Universitário da Beira Interior. Apresenta no Teatro Cine da Covilhã, no dia 18 de Março às 21:45, o espectáculo "Antes de Descobrir a Garganta", primeira parte da trilogia DELAY - uma criação de Nuno Leão e Ricardo Marques.

07/03/2010

POP: ARTE DE CONSUMO?

"Enquanto toda a arte até à Pop-Arte se funda numa visão do mundo «em profundidade» (alimentando-se da transcendência das coisas), esta pretende tornar-se homogénea da ordem imanente dos signos: homogénea da produção industrial e serial e, consequentemente, do carácter artificial e fabricado de todo o ambiente; homogénea da saturação em extensão e da abstracção culturalizada da nova ordem das coisas.
(...) a Arte Pop significa o fim da perspectiva, o fim da evocação, o fim do testemunho, o fim do gestual criador - o que não é de menor importância - o fim da subversão do mundo e da maldição da arte. Visa não só a imanência do mundo «civilizado», mas a sua integração total no mesmo mundo.
(...) Não admira (que os artistas pop) tenham preferência em pintar as siglas, as marcas e os slogans que veiculam os objectos e que, em última análise, só consigam pintar isso (Robert Indiana). Não é por jogo nem por «realismo»: é reconhecer a evidência da sociedade de consumo, a saber, que a verdade dos objectos e dos produtos é a respectiva marca. Se a «americanidade» consiste nisso, coclui-se que a americanidade constitui a própria lógica da cultura contemporânea e não temos direito de censurar os artistas pop pelo facto de a porem em evidência.
Não podemos igualmente reprovar-lhes o sucesso comercial, que aceitam sem vergonha. Seria pior constituir objecto de maldição, reintegrando-se assim numa função sagrada. É lógico que a arte, que não contradiz o mundo dos objectos, mas explora o respectivo sistema, ingresse também no seu seio. Acaba assim a hipocrisia e o ilogismo radical.
(...) a arte pop é a primeira a explorar a próprio estatuto de arte-objecto «assinado» e «consumido».
(...) Andy warhol afirma «a realidade não precisa de intermédio; importa apenas isolá-la para a tela». Ora aí é que reside verdadeiramente o problema, porque a quotidianidade desta cadeira (ou de determinado «hamburger», guarda-lamas de automóvel ou rosto de «pin-up») consiste no precisamente no respectivo contexto e, de modo sigular, no contexto serial de todas as cadeiras semelhantes ou levemente dissemelhantes, etc. A quotidianidade é a diferença na repetição. Ao isolar a cadeira na tela roubo-lhe a quotidianidade e retiro também á tela todo o carácter de objecto quotidiano. Semelhante impasse é muito conhecido: nem a arte pode dissolver-se no quotidiano (tela=cadeira), nem consegue captar o quotidiano como tal (cadeira isolada na tela=cadeira real). A imanência e a transcendência são igualmente impossíveis - dois aspectos do mesmo sonho. Numa palavra: não existe essência do quotidiano e do banal e, por consequência, não há arte do quotidano.
(...) No entanto, não temos o direito de acusar Warhol e outros artistas pop de má fé: a sua exigência lógica choca com o estatuto sociológico e cultural da arte, contra a qual nada podem. A sua ideologia traduz esta impotência. Quanto mais pretendem dessacralizar a sua prática, mais os sacraliza a sociedade. Obtém-se assim o resultado de que a sua tentativa - por mais radical que seja - de secularização da arte, nos temas e no processo, desemboca numa exaltação e numa evidência nunca vista do sagrado na arte. Os artistas pop esquecem simplesmente que, a fim de um quadro deixar de ser super signo sagrado (objecto único, rubrica, objecto de comércio nobre e mágico), não basta o conteúdo ou as intenções do autor: as estruturas de produção da cultura é que são decisivas. Em última análise, só a racionalização do mercado da pintura, como de qualquer outro produto industrial, é que conseguiria dessacralizá-la e inserir o quadro entre os objectos quotidianos (em tal acepção, a verdade da arte pop seria o salariado e o painel de afixação, e não o contrato e a galeria de pintura)."
in A Sociedade do Consumo, de Jean Baudrillard
Lisboa: edições 70, 2010